1 Embora um conflito armado não seja do interesse
de nenhuma das partes envolvidas na longeva disputa
entre as duas Coreias, são imprevisíveis as consequên-
cias da escalada de hostilidades entre os dois países
nos últimos dias.
6 Os primeiros movimentos sul-coreanos foram cau-
telosos. Após ter um navio de guerra atacado por tor-
pedos, em março, o país não respondeu de imediato ao
que se afigurava como o mais audacioso ato de hosti-
lidade do vizinho em mais de duas décadas.
11 Investigadores internacionais foram chamados a
avaliar o episódio − e determinaram, após longa perícia,
que um submarino norte-coreano havia sido o respon-
sável pelos disparos.
15 A prudência da Coreia do Sul e de seu principal
aliado, os EUA, é compreensível. São preocupantes as
consequências de um conflito aberto com o decrépito
regime do ditador comunista Kim Jong-il, que realizou,
nos últimos anos, testes balísticos e nucleares.
20 Para os norte-americanos, que ainda têm batalhas
a travar no Afeganistão e mantêm tropas no Iraque, não
faz sentido abrir uma nova frente de combate na Ásia.
Há ainda o fato de que a capital sul-coreana, Seul, fica
próxima à fronteira, e essa situação de vulnerabilidade
desaconselha uma aventura militar contra o norte.
26 Compelido a responder ao ataque, o governo sul-
coreano suspendeu o que restava da política de reapro-
ximação com o país vizinho − intensificada na última dé-
cada, mas já alvo de restrições na Presidência do con-
servador Lee Myung-bak. Cortou o comércio com o nor-
te da península e voltou a classificar Pyongyang como o
seu "principal inimigo".
33 Em resposta, a Coreia do Norte interrompeu comu-
nicações com o vizinho e expulsou sul-coreanos do
complexo industrial de Kaesong, mantido pelas duas na-
ções no território comunista. É um retrocesso a lamen-
tar, já que interesses econômicos comuns e troca de
informações, por pequenos que sejam, podem ajudar na
prevenção de conflitos armados.
40 Nesse cenário em que os atores envolvidos não
são capazes de entender os movimentos e as intenções
do rival, os processos de hostilidade mútua podem se
tornar incontroláveis.
44 Mesmo que o imbróglio não tenha consequências
graves, ele chama a atenção para o imprevisível desen-
lace da lenta derrocada do regime comunista de
Pyongyang, uma herança anacrônica dos tempos da
Guerra Fria.
(Folha de S. Paulo. A2 opinião, quarta-feira, 26 de maio
de 2010)