Nós falamos mal, mas você pode fazer melhor
Jerônimo Teixeira e Daniela Macedo
Mal amparado por escolas que evadem qualquer menção à análise sintática, o
brasileiro nem sempre sabe buscar régua e compasso para disciplinar a língua que fala. O
português é uma entidade dinâmica, continuamente alterada e enriquecida por novas
gírias, expressões, palavras importadas. Mas essa fluidez não faz dela um território sem
leis. As gramáticas normativas – como a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo
Bechara – cumprem um bom papel no esclarecimento de dúvidas sobre o que é ou não
correto na escrita. A fala, porém, admite muitas construções que seriam aberrantes na
página impressa. [...] O que é preciso é achar o equilíbrio, inclusive nas diferenças de
registro: um adolescente não pode empregar com os avós os mesmos termos que utiliza
nas baladas com sua turma. [...]
Aí se chega a uma recomendação que todo cidadão vem ouvindo desde que se
sentou pela primeira vez nos bancos da escola: ler é indispensável para quem quer se
expressar bem. E ler inclui de Machado de Assis e Graciliano Ramos até um blog decente
na internet (mas atenção: é preciso ler de tudo – não uma coisa ou outra). Ler mostra as
infinitas possibilidades de expressão da língua, enriquece o vocabulário (e o bom
vocabulário é o melhor amigo da precisão), ensina o leitor a organizar seu pensamento e
ainda oferece a ele algo de valor inestimável: conteúdo. Ter coisas interessantes e
pertinentes a dizer é o primeiro passo para falar ou escrever bem.
(Veja. Editora Abril, ed. 2177 – ano 43 – nº 32, 11 de agosto de 2010. Com adaptações.)