Na ciência moderna, a ruptura epistemológica
simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum
para o conhecimento científico; no conhecimento-emancipação,
esse salto qualitativo deve ser complementado por um outro,
igualmente importante, do conhecimento científico para o
conhecimento do senso comum. A ciência moderna
ensinou-nos a rejeitar o senso comum conservador, o que em
si é positivo, mas insuficiente. Para o conhecimento-
emancipação, esse conhecimento é experienciado como uma
carência, a falta de um novo senso comum emancipatório.
O conhecimento-emancipação só se constitui como tal na
medida em que se converte em senso comum. Só assim será
uma ciência transparente que fará justiça ao desejo de
Nietzsche quando diz que “todo o comércio entre os homens
visa que cada um possa ler na alma do outro, sendo a
linguagem comum a expressão sonora dessa alma comum”.
O conhecimento-emancipação, ao tornar-se senso comum, não
despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas entende
que tal como o conhecimento deve traduzir-se em
autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve
traduzir-se em sabedoria de vida.
Boaventura de Sousa Santos. A crítica da razão indolente.