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Questões Polícia Militar-MS de Português | 24989

#24989
Banca
. Bancas Diversas
Matéria
Português
Concurso
Polícia Militar-MS
Tipo
Múltipla escolha
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médio

(1,0) 1 - 

Um ano de ausência

A porta aberta, você dava logo de cara com um azulejo 
na parede: “Aqui mora um solteiro feliz”. Uma pitada de humor 
com um toque popular. Essa graça espontânea que a tudo dá 
gosto. Do contrário, a vida é só enfado e mormaço. Era de fato 
um solitário. Precisava de ser só. Nisso, sua personalidade era 
feita de uma peça só. Incapaz de simulação, ou até, em certos 
casos, de uma ponta de hipocrisia que se debita à polidez social.
Nunca vi solitário de porta tão aberta. Nesse sentido, 
falando de Minas, do tempo em que lá viveu, observava o recato,
a quase avareza com que os mineiros tratam o forasteiro. 
Talvez por isso nunca se esqueceu de um almoço em Caeté, 
que lhe deu uma página antológica do ponto de vista das duas 
artes ? a culinária e a literária. Sendo de um temperamento
encolhido, sobretudo na mocidade, gostava desse clima de
intimidade que cria laços de confiança e amizade para sempre.
À primeira vista, ou de longe, parecia, sim, o que os 
franceses chamam de um urso. Sempre metido consigo mesmo, 
fabricava o seu próprio mel. Espécie de ruminante, que se
alimentava da matula que traz de nascença. Fugia da cilada
sentimental, ou da emoção, pelo atalho do senso de humor. Sabia 
manejar a lâmina da ironia, nunca a usava a seco. Sempre
compensada por uma tirada de forte teor humano. Horror ao
pedantismo, à afetação. Não impostava a voz, nem a pena.
Talvez tivesse qualquer coisa de bicho, esse homem 
sensível à beleza fugaz deste mundo. Na sua relação com
a natureza, não havia intermediação de ordem intelectual. O coração
da vida pulsava no seu coração. Era um ser livre e lírico. 
Seu claro olhar de sabedoria espiava o Brasil com algum tédio. 
País sem jeito, que trata mal as crianças e os pobres. O sentimento
de justiça sem apelo ideológico. Muito antes do modismo conservacionista,
pleiteou a causa do macaco carvoeiro e de todo e qualquer ser
ameaçado. Tinha uma disponibilidade fundamental para ver e escrever. Um
senhor poeta, o cronista Rubem Braga.
(Adaptado de: Otto Lara Resende. Bom dia para nascer: crônicas publicadas na Folha de S.Paulo. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, p. 259 e 260) 

Se considerarmos a substituição dos elementos grifados pelos elementos entre parênteses ao final da frase, o ver- bo que deverá permanecer no singular está em