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Livro didático de Língua Portuguesa: o retorno do recalcado
No que diz respeito à concepção de língua e de linguagem, outras condições também se impuseram no livro didático de Língua Portuguesa. Em primeiro lugar, as teorias do uso e a análise do discurso revelaram aspectos da linguagem (e das línguas) até então desconhecidos, negados ou apenas marginalmente abordados pelas ciências da linguagem. Entre eles, podemos nos referir a uma noção central como a de discurso, que podemos entender de forma genérica, como Benveniste o caracterizou: “linguagem posta em ação – e necessariamente entre parceiros”. Ao contrário da noção de sistema ou de código, ao contrário também do que denominamos como gramática, o conceito de discurso nos revela a linguagem como uso, como interação, por meio da linguagem, entre sujeitos que fazem parte de um determinado contexto histórico e social, numa situação de comunicação muito particular. Nesse sentido, o ensino de língua materna deve ser, antes de mais nada, o ensino de uma forma específica de (inter)agir, e não apenas de um conjunto de informações sobre a língua.
(Egon Rangel, O livro didático de português, Lucerna, RJ, 2005)