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Na casa todos dormiam. Todos, menos a irmã.
Era quieta, essa irmã. Não cantava, não ria; mal
falava. Trazia água do poço, varria o terreiro, passava a roupa,
4 comia — pouco, magra que era — e ia para a cama sem dar
boa-noite a ninguém. Dormia num puxado, um quartinho só
dela; tinha nojo dos irmãos. Se, na cama, suspirava ou revirava
7 os olhos, nunca ninguém viu. O nome dela era Honesta.
(Nome dado pela mãe. O pai queria-a ali, na roça; a
mãe, porém, tinha esperança que um dia a filha deixasse o
10 campo e fosse para a cidade se empregar na casa de uma
família de bem. E que melhor nome para uma empregada do
que Honesta? O pai acreditava no campo; a mãe secretamente
13 ansiava pela cidade — por um cinema! Nunca tinha entrado
num cinema! Minha filha fará isto por mim, dizia-se, sem notar
que a filha vagueava por paisagens estranhas, distantes do
16 campo, distantes da cidade, distantes de tudo. [...])
Moacyr Scliar. Doutor Miragem. Porto Alegre:L&PM, 1998, p. 22-3 (com adaptações)
Julgue os itens subsequentes, com base nas ideias e estruturas linguísticas do texto acima.
No texto, o pronome “se”, em “dizia-se” (l.14), equivale, em sentido, à expressão a si mesma.