Texto I, para responder às questões de 1 a 2.
Em uma manhã de inverno em 1978, a assistente
social Zélia Machado, 49 anos de idade, encontrou um bebê
recém-nascido em um terreno baldio em frente de sua casa,
em Curitiba. Era uma menina morena que chorava muito,
ainda com o cordão umbilical, embrulhada em uma sacola de
papel. Zélia, uma descendente de ucranianos de olhos azuis,
levou a criança ao hospital e, ignorando a opinião contrária
de parentes e amigos, resolveu adotá-la. “Foi a melhor
decisão da minha vida”, diz hoje. Aos dezoito anos, Patrícia,
a filha adotiva, está-se preparando para o vestibular e tem
com a mãe um relacionamento melhor do que muitos filhos
biológicos em outras famílias. “Às vezes até esqueço que fui
adotada”, conta.
Histórias como essa compõem a primeira grande
pesquisa sobre adoção no Brasil, feita pela psicóloga
paranaense Lídia Weber em doze estados de diferentes
regiões. O estudo, que acaba de ser apresentado no XXVI
Congresso Internacional de Psicologia, realizado em
Montreal, no Canadá, desmente alguns mitos sobre a adoção
no país. Mostra, por exemplo, que a adoção é uma
experiência muito mais tranquila e gratificante do que se
imagina para pais e filhos. “Oitenta e cinco por cento dos
casos estudados foram muito bem-sucedidos”, atesta a
pesquisadora. “Esse resultado desmente a tese de muitos
psicólogos e psiquiatras segundo a qual a perda dos pais
biológicos é irreparável e determinante de todos os
problemas nas crianças adotadas.”
In: Veja, 18/9/1996 (com adaptações).