O fragmento textual abaixo servirá de base para as questões 06, 07, 08, 09 e 10.
Carlos Drummond de Andrade publicou seus Contos de aprendiz quando já se aproximava
dos cinqüenta anos de idade. Por que um poeta consagrado decidiria arriscar a reputação
num terreno que, aparentemente, lhe era estranho? Quando reuniu os contos que compõem
este volume, Drummond já tinha publicado alguns de seus livros mais importantes [...]. Não
precisava, mais, de aventuras. Já tinha experimentado também o papel de prosador pelo
menos por duas vezes [...]. Deveria, pode-se pensar, se dar por satisfeito. Os contos aqui
reunidos guardam, porém, uma outra estrutura. Se Drummond preferiu chamá-los “de
aprendiz”, não se referia, contudo, a uma iniciação. A palavra aprendiz indica, em princípio,
aquele que tateia em um ofício, que não passa de um iniciante. O poeta era, talvez, ainda
um principiante na prosa, mas na poesia já era um mestre. É do exercício dessa maestria,
e do prazer em experimentá-la em terrenos distantes, de transportá-la para outras regiões
sem que ela se perca, portanto, que se trata.
CASTELLO, José. Prefácio. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos de aprendiz. 49. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2007. p. 7.