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Assistir à televisão era algo especial, a começar pelo
manuseio do aparelho. Frequentemente apenas uma pessoa ?
no geral, um adulto ? era competente para ligá-lo e regular a
imagem. As crianças constituíam, desde o início, um segmento
importante do público, mas ainda lhes era imposta certa distância do aparelho.
Introduzida nos lares, a televisão concedia prestígio social à família.
Mais que isso: a casa se tornava um centro de atração e convivência
para a vizinhança. Por isso, o público alvo incluía os televizinhos.
Havia ainda um misto de respeito e estranhamento diante da caixa
mágica e de seus mistérios. A posse do objeto que traz as imagens
para dentro de casa significava uma postura “moderna”, uma atitude
desinibida diante da nova tecnologia.
Antes do videoteipe (VT), a teledramaturgia transportava uma carga
de emoção que era única,semelhante à tensão típica de um espetáculo
teatral. O público recebia inconscientemente essa carga e participava
de algum modo dela. Se para Aracy Cardoso o uso do VT permite sobretudo
ao ator se ver e corrigir a interpretação, Roberto de Cleto enfatiza que a
introdução do vídeo teipe prejudicou a interpretação: perdia-se uma certa
eletricidade que emanava da interpretação ao vivo. A energia que vibrava
da vontade “de se fazer bem e certo, ao vivo” não estava mais presente.
As cartas dos leitores de revistas especializadas da época revelam que o
público se propunha a participar ativamente no desenvolvimento do
novo meio. Ele exercia a crítica com a intenção de modificar o que lhe
era apresentado: a programação, a escolha dos atores, a composição dos cenários.
(Adaptado de Marta Maria Klagsbrunn. “A telenovela ao vivo”.Sujeito, o lado oculto do receptor. S.Paulo: Brasiliense, 1995, p. 94-95)
No quarto parágrafo, são confrontadas duas posições opostas sobre o surgimento do videoteipe, que podem ser assim sintetizadas: