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Questões comentadas Polícia Militar-MS de Português | 24990

#24990
Banca
. Bancas Diversas
Matéria
Português
Concurso
Polícia Militar-MS
Tipo
Múltipla escolha
médio

(1,0) 1 - 

Um ano de ausência

A porta aberta, você dava logo de cara com um azulejo 

na parede: “Aqui mora um solteiro feliz”. Uma pitada de humor 

com um toque popular. Essa graça espontânea que a tudo dá 

gosto. Do contrário, a vida é só enfado e mormaço. Era de fato 

um solitário. Precisava de ser só. Nisso, sua personalidade era 

feita de uma peça só. Incapaz de simulação, ou até, em certos 

casos, de uma ponta de hipocrisia que se debita à polidez social.

 

Nunca vi solitário de porta tão aberta. Nesse sentido, 

falando de Minas, do tempo em que lá viveu, observava o recato,

a quase avareza com que os mineiros tratam o forasteiro. 

Talvez por isso nunca se esqueceu de um almoço em Caeté, 

que lhe deu uma página antológica do ponto de vista das duas 

artes ? a culinária e a literária. Sendo de um temperamento

encolhido, sobretudo na mocidade, gostava desse clima de

intimidade que cria laços de confiança e amizade para sempre.

 

À primeira vista, ou de longe, parecia, sim, o que os 

franceses chamam de um urso. Sempre metido consigo mesmo, 

fabricava o seu próprio mel. Espécie de ruminante, que se

alimentava da matula que traz de nascença. Fugia da cilada

sentimental, ou da emoção, pelo atalho do senso de humor. Sabia 

manejar a lâmina da ironia, nunca a usava a seco. Sempre

compensada por uma tirada de forte teor humano. Horror ao

pedantismo, à afetação. Não impostava a voz, nem a pena.

 

Talvez tivesse qualquer coisa de bicho, esse homem 

sensível à beleza fugaz deste mundo. Na sua relação com

a natureza, não havia intermediação de ordem intelectual. O coração

da vida pulsava no seu coração. Era um ser livre e lírico. 

Seu claro olhar de sabedoria espiava o Brasil com algum tédio. 

País sem jeito, que trata mal as crianças e os pobres. O sentimento

de justiça sem apelo ideológico. Muito antes do modismo conservacionista,

pleiteou a causa do macaco carvoeiro e de todo e qualquer ser

ameaçado. Tinha uma disponibilidade fundamental para ver e escrever. Um

senhor poeta, o cronista Rubem Braga.

 

 

(Adaptado de: Otto Lara Resende. Bom dia para nascer: crônicas publicadas na Folha de S.Paulo. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, p. 259 e 260) 

Do contrário, a vida é só enfado e mormaço. (1o parágrafo) A palavra empregada no texto que tem o mesmo sentido da grifada na frase acima é:

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