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Antes de vitoriosa a colonização portuguesa do Brasil,
não se compreendia outro tipo de domínio europeu nas regiões
tropicais que não fosse o da exploração comercial através de
feitorias ou da pura extração da riqueza mineral. Em nenhum
dos casos se considerara a sério o prolongamento da vida
europeia ou a adaptação dos seus valores materiais e morais a
meios e climas tão diversos; tão mórbidos e dissolventes.
O colonizador português do Brasil foi o primeiro, dentre
os colonizadores modernos, a deslocar a base da colonização
tropical da pura extração de riqueza mineral, vegetal ou animal
– o ouro, a prata, a madeira, o âmbar, o marfim – para a de
criação local de riqueza. Ainda que riqueza – a criada por eles
sob a pressão das circunstâncias americanas – à custa do tra-
balho escravo: tocada, portanto, daquela perversão de instinto
econômico que cedo desviou o português da atividade de
produzir valores para a de explorá-los, transportá-los ou adquiri-
los.
Semelhante deslocamento, embora imperfeitamente rea-
lizado, importou numa nova fase e num novo tipo de colo-
nização: a “colônia de plantação”, caracterizada pela base
agrícola e pela permanência do colono na terra, em vez do seu
fortuito contato com o meio e com a gente nativa. No Brasil
iniciaram os portugueses a colonização em larga escala dos
trópicos por uma técnica econômica e por uma política social
inteiramente novas: apenas esboçadas nas ilhas subtropicais do
Atlântico. [...]
A sociedade colonial no Brasil, principalmente em Per-
nambuco e no Recôncavo da Bahia, desenvolveu-se patriarcal e
aristocraticamente à sombra das grandes plantações de açúcar,
não em grupos a esmo e instáveis; em casas-grandes de taipa
ou de pedra e cal, não em palhoças de aventureiros. Observa
Oliveira Martins que a população colonial no Brasil, “espe-
cialmente ao Norte, constituiu-se aristocraticamente, isto é, as
casas de Portugal enviaram ramos para o ultramar, e desde
todo o princípio a colônia apresentou um aspecto diverso das
turbulentas imigrações dos castelhanos na América Central e
ocidental”.
(Fragmento extraído de Gilberto Freyre. Casa grande & senzala. v.1. 14. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1969, pp.22-3)
O texto estabelece uma clara oposição entre dois tipos de colonização nos trópicos: a colonização