Já que está começando a temporada de balanço do século XX, pergunta-se: qual a invenção que mais marcou estes 100 anos? Vai? se convidar o leitor, aqui, a pensar num invento injustiçado, espécie de herói obscuro do nosso tempo: o elevador. O elevador é singelo e sensaborão. No entanto, que seria do século XX sem ele? Não haveria arranha? céus, para começar. A técnica para construir estruturas altas era já de domínio do homem havia muito. O problema não era construir, mas como subir, e, se não fosse o elevador, as cidades seriam no máximo da mesma altura que Paris tem ainda hoje - seis andares, o padrão dos prédios antes de se inventar um meio mais suave de galgá-los do que a escada. A aparência das cidades seria outra. Seria outra a evolução da arquitetura no século XX, e outros, os hábitos e as políticas de habitação. Mas não é só. O próprio gigantismo das cidades, uma característica do século - seria ele possível sem o elevador? Os prédios altos adensaram as cidades. Em menores espaços, passou-se a abrigar mais habitações e mais locais de trabalho. E, com isso, o que aconteceu? Tornou?se possível a fuga do campo para as cidades, outro fenômeno do século. Não fosse o elevador, muitos ainda estariam na roça, por falta de cidade grande para onde ir. Não há dúvida: nosso mundo não seria o mesmo sem essa boba caixa que sobe. Mas o elevador também tem muitos aspectos negativos. No Brasil, pátria das injustiças sociais, inventou-se o elevador dito "de serviço", mais um instrumento para marcar a diferença entre os bem postos a os mal postos na vida. Aos bem postos reserva-se o prestígio do "elevador social". Aos mal postos, o exílio no elevador de serviço. Não se está cantando loas ao elevador e tampouco ao século. Talvez ele fosse mais humano sem os arranha-céus e as metrópoles. Talvez fôssemos mais felizes ao rés do chão. O que se quer é atribuir ao elevador seu justo peso. Que não se esqueça dele, quando se fizer o balanço dos engenhos e artes que deram ao século XX o rosto que tem.