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Os primeiros anos do século XX marcaram o surgimento, no Rio de Janeiro, de uma grande novidade: o foot-ball, esporte de origem inglesa que logo cairia no gosto das rodas elegantes da cidade. Aparecendo inicialmente nos últimos anos do século XIX por iniciativa de estrangeiros, como os sócios do Payssandu Cricket Club, o jogo é rapidamente assumido por grupos de jovens estudantes que voltavam do Velho Continente trazendo as novidades do tão moderno esporte. Era o caso dos fundadores do Fluminense Foot-ball Club. Criado em 1902 por alguns entusiastas do jogo da bola, era o primeiro clube do gênero na capital da República. Já nos anos seguintes, porém, surgiam outros clubes, como o Botafogo, que ajudariam a definir junto com eles uma feição de elegância e distinção para o futebol. Embora em muitos colégios e em diferentes regiões da cidade os jogos com bola já fossem apreciados pelo menos desde a década de 1890, os sócios destes clubes - autodenominados sportmen - firmavam no Brasil um modelo de jogo com regras e termos definidos, adotando os padrões do foot-ball association inglês. Definiam com isto de forma mais rígida uma ordenação para o esporte, ligando-o definitivamente ao modo pelo qual era praticado na Europa.
Empolgando a rica mocidade carioca, o futebol mostrava ter ainda, nos seus primeiros anos na cidade, um caráter restrito. Longe de ser um esporte nacional, o jogo era praticado majoritariamente por jovens endinheirados que iam fazendo dele um misto de diversão e de distinção,na formação de clubes privados nos quais pudessem reunir-se e praticar o esporte. Os sócios destes clubes elegantes não conseguiriam, porém, manter por muito tempo o monopólio desta prática esportiva. O futebol, que desde os primeiros anos do século vinha se difundindo rapidamente pela cidade, alcançava no fim da década de 1910 uma popularidade ímpar. Segundo uma revista esportiva, ele já era em 1919 o esporte “com maior número de adeptos" no Rio de Janeiro. Esta grande popularidade, que tirava do futebol o caráter de um jogo elegante para poucos, impressionava cronistas como Paulo Barreto, mais conhecido pelo pseudônimo de João do Rio. Se ainda em 1910 Gilberto Amado, sem dar importância ao jogo daqueles rapazes elegantes, afirmava que o futebol não seria “assunto de intelectuais", já em 1916 Paulo Barreto declarava, sem receio, a importância do jogo para a cidade - o que faz em uma crônica assinada com o pseudônimo de José Antonio José, um de seus personagens narradores.(...)
Ligando o jogo às festas esportivas da Antiguidade, como faria ainda em outras crônicas - nas quais afirma explicitamente para ele, pela boca de Godofredo de Alencar, uma origem ligada aos jogos olímpicos de Delfos (onde se realizavam os jogos em honra a Apolo), definindo o futebol como o “renascimento de um jogo grego" - Paulo Barreto mostrava a grandiosa impressão que a popularização do futebol lhe causava. Para ele, já neste momento “a alteração geral é o sport, é o match", o que daria às disputas futebolísticas na cidade uma dimensão nunca vista. Definitivamente, parecia que algo havia mudado nos campos da cidade, e o jogo dos rapazes elegantes transformara-se, então, em um grande fenômeno de massas.
(PEREIRA, Leonardo A. de M. O jogo dos sentidos: os literatos e popularização do futebol no Rio de Janeiro).
A frase INCORRETA quanto à concordância verbal, de acordo com as normas da língua culta, é: