Corrupção, ética e transformação social
Em toda História do Brasil, talvez nunca tenhamos visto um momento em que notícias de corrupção tenham sido tão banais nos meios de comunicação, e tão
discutidas por grande parte da população.Em qualquer lugar (mesmo que seja um ônibus, por exemplo), sempre há alguém falando sobre a crise na saúde, a crise
na educação e, inclusive, a crise ética na política brasileira. Contudo, é preciso notar também que, muitas vezes, enquanto cidadãos, nós mesmos raramente
decidimos fazer alguma coisa pela transformação da realidade – isso, quando fazemos algo. Certo comodismo nos toma de assalto e reveste toda a nossa fala de
uma moral vazia, estéril, que se reduz à crítica que não busca alterar a realidade. Afinal de contas, em época de eleições, como a que estamos prestes a vivenciar,
nós notamos nas propagandas políticas dos partidos a presença dos mesmos políticos e das mesmas propostas políticas, as mesmas já prometidas nas eleições
anteriores, e que jamais foram executadas. Logicamente há as exceções de certos governantes que fazem por onde efetivar suas promessas, mas esses,
infelizmente, continuam sendo uma minoria em todo o Brasil. Numa outra perspectiva, é interessante perceber também quão contraditória consiste ser a distância
entre o que nós criticamos em nossos políticos e as ações que nós reproduzimos em nosso cotidiano. De uma forma ou de outra, reproduzimos a corrupção que
nós percebemos na administração pública nacional quando empregamos o chamado jeitinho brasileiro, em que o peso de um sobrenome ou o peso da influência
do status social passa a ser um dos elementos determinantes para a obtenção de certos fins. É nesse sentido que podemos apontar aqui um grave problema social
brasileiro, uma das principais bases para se buscar o fim da corrupção política no Brasil: a existência de uma ética baseada em uma falta de ética. Como
poderemos superar essa incongruência? Com certeza, a Educação pode ser a saída ideal. Mas tem de ser uma Educação voltada para desenvolver nas crianças,
nos jovens e até mesmo nos universitários – independentemente de frequentarem instituições públicas ou privadas – uma preocupação para com o bem público,
isto é, para com a sociedade. Uma Educação que os leve a superar uma concepção de mundo utilitarista, segundo a qual toda sociedade humana não passa de um
somatório de indivíduos e seus interesses pessoais, que tão bem se acomoda ao jeitinho brasileiro, será o primeiro passo para se desenvolver uma sociedade mais
justa, uma sociedade em que a preocupação com o público, com o coletivo, será a forma ideal para buscar a felicidade individual, que tanto preocupa certos
conservadores.
Para tanto, sabemos que é preciso não uma “educação política”, mas sim uma educação politizada. Uma educação que reconheça que a solução para a corrupção
centra-se em conceber a política não apenas como um instrumento para se alcançar um determinado fim, consolidando-se, portanto, numa mera razão
instrumental. Uma educação na qual a própria política, a partir do momento em que buscar ser de fato um meio para se alcançar o bem de todos – como ao que se
propõe o nosso modelo democrático –, vai estruturar uma ética que localizará no comodismo e no jeitinho brasileiro as raízes de nosso analfabetismo político,
substituindo-os por outras formas de ação social ao longo da construção de uma cultura cívica diferente. (adaptado de MOREIRA, Moisés S. In
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