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(FCC TRT SP/2014)
Diante do futuro
1 Que me importa o presente? No futuro é que está a exis-
tência dos verdadeiros homens. Guyau*, a quem não me canso
de citar, disse em uma de suas obras estas palavras:
“Porventura sei eu se viverei amanhã, se viverei mais
5 uma hora, se a minha mão poderá terminar esta linha que co-
meço? A vida está por todos os lados cercada pelo Desco-
nhecido. Todavia executo, trabalho, empreendo; e em todos os
meus atos, em todos os meus pensamentos, eu pressuponho
esse futuro com o qual nada me autoriza a contar. A minha
10 atividade excede em cada minuto o instante presente, estende-
se ao futuro. Eu consumo a minha energia sem recear que esse
consumo seja uma perda estéril, imponho-me privações, con-
tando que o futuro as resgatará ? e sigo o meu caminho. Essa
incerteza que me comprime de todos os lados equivale para
15 mim a uma certeza e torna possível a minha liberdade - é o
fundamento da moral especulativa com todos os riscos. O meu
pensamento vai adiante dela, com a minha atividade; ele
prepara o mundo, dispõe do futuro. Parece-me que sou senhor
do infinito, porque o meu poder não é equivalente a nenhuma
20 quantidade determinada; quanto mais trabalho, mais espero.”
* Jean-Marie Guyau (1854-1888), filósofo e poeta francês.
(PRADO, Antonio Arnoni (org.). Lima Barreto: uma auto biografia literária. São Paulo: Editora 34, 2012. p. 164)
O fato de nossa vida estar cercada pelo Desconhecido não deve implicar uma restrição aos empreendimentos humanos, já que, para Guyau,